Mr. Domingues

Sempre ouvi que escrevo demais, e-mails longos, cartas intermináveis para namoradas, nunca consegui usar Post-it, enfim, bem ou mal eu gosto de escrever. A intenção é que isso aqui sirva como uma "descarga mental" onde comento fatos, acontecimentos e pensamentos, na verdade, tudo que me der vontade. Sabe quando se vê um filme, lê um livro ou algo no jornal e ficamos com vontade de discutir com alguém sobre o assunto? É pra isso que esse espaço serve, assim eu incomodo menos quem está à minha volta e começo a incomodar anônimos internet afora que queiram ser incomodados. Mas é claro que não vou fugir muito dos meus hobbies, interesses pessoais e profissionais, como saúde, atividade física, esporte, tecnologia e música.

sábado, 24 de abril de 2010

Eu quero um trem!!!
Uso a estrada diariamente pra me deslocar, pra correr e pra pedalar porque moro à beira de uma rodovia, a BR-392 que faz todo escoamento da produção rumo ao Porto de Rio Grande, segundo porto mais importante do país. Enquanto alguns enxergam o progresso chegando de caminhão em direção ao porto, eu vejo um atraso de vida e fico triste. A todo o momento me pergunto - quando teremos trens?
Uma composição (locomotiva + 80 vagões) carrega o equivalente a 200 caminhões, vamos fazer uma conta rápida. Mesmo sabendo que eles não andam num grupo tão numeroso, um comboio de 200 caminhões ocupa pelo menos 6 km em uma estrada, são 200 motores a diesel poluindo e uns 1600 pneus “castigando” a estrada. Imagine que, se apenas uma composição representa tudo isso em caminhões, o que poderíamos diminuir em acidentes, poluição, engarrafamentos, aumentar a vida útil das estradas, etc. se o sistema ferroviário fosse eficiente?
No pico da safra agrícola no estado, chegam ao porto de Rio Grande mil caminhões por dia. O porto consegue absorver 600, o restante se acumula em longas filas no acostamento e por onde der, atrapalhando o trânsito e seguidamente causando acidentes.
O produtor economiza pelo menos 10% com transporte ao usar trem, mas faltam vagões, apenas um terço da produção de soja viaja pelos trilhos. E o que pode ser mais contraproducente do que carregar grão em caminhão? Basta ver como fica o acostamento das estradas em época de safra da soja, fica amarelo de ponta a ponta, com um rastro de grãos que vão sendo perdidos no caminho. Mas nós somos um país rico, podemos literalmente jogar comida fora. Detalhe, o grão ao ser molhado vira uma pasta altamente escorregadia, qualquer veículo que entre no acostamento e precise frear derrapa com certeza. Acostamento significa - local para onde normalmente os caminhoneiros nos “empurram” durante suas ultrapassagens.
Rio Grande também tem um dos maiores terminais de containeres do país, e a comparação é a mesma, enquanto um caminhão leva um container, uma composição levaria facilmente uma centena.
Existe luz no fim do túnel?
Cogita-se agora a criação da Ferrosul, que seria uma ferrovia com várias ramificações, ligando o porto de Rio Grande a regiões como a fronteira Oeste do Estado, criando ramos para países vizinhos e em direção norte atingindo até Mato Grosso do Sul e São Paulo. Tomara que saia do papel.

E o transporte de passageiros? Imagine trocar 4 horas de estrada entre Rio Grande e Porto Alegre, com direito a pedágios, muitos buracos e caminhões nos jogando pro acostamento, por uma viagem de 2 horas a bordo de um trem muito mais confortável, que levaria mais gente, poluiria menos e provavelmente seria mais barato.
Fomos na contramão, enquanto outros países seguiram investindo em ferrovias, o Brasil a partir da década de 50 considerou que trilho era coisa do passado, o futuro é o asfalto, “o petróleo é nosso”, e foi sistematicamente desativando toda malha ferroviária entre as décadas de 50 e 80. Dos anos 90 pra cá as estações de trem Brasil afora ou foram destruídas ou viraram algum tipo de museu.
Em toda Europa usa-se trem pra transporte dentro da cidade, entre cidades e entre países. Na China, 80 sistemas de metrô estão sendo construídos atualmente. Não somos chineses, mas quantos metrôs estão em construção atualmente no Brasil?
Claro que muitos reclamam do impacto social que isso causaria, e existe um interesse comercial gigante em volta do caminhão, mas não é uma mudança da noite pro dia, e no longo prazo seria um benefício coletivo (menos acidentes, menos poluição, menos engarrafamentos, estradas mais bem conservadas, etc.). E todos os setores se adaptam com o progresso. Quem vendia discos começou a vender cd’s e hoje com o MP3 está indo à falência, a injeção eletrônica acabou com os mecânicos experts em carburador, as tipografias viraram parques de impressão laser. O sujeito que consertava máquinas de escrever morreu de fome, o cinema sofreu com o vídeo cassete, que virou DVD e que agora sofre com a pirataria, vender filme fotográfico também não dá mais dinheiro e por aí vai. O que não dá pra engolir é seguir com a coisa do jeito que está só porque é cômodo ou porque a mudança afetaria muitas pessoas. É preciso ver quantas perderiam e quantas ganhariam com isso.

Um comentário:

  1. Sem contar que em período de transporte da safra como estamos agora o ciclismo fica quase impraticável ou no mínimo muito perigoso. O véio Humberto que não vai gosta de trem na região, vai ter que vender umas bikes se os caminhões sairem da estrada,hehe.
    Abraços

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