Mr. Domingues

Sempre ouvi que escrevo demais, e-mails longos, cartas intermináveis para namoradas, nunca consegui usar Post-it, enfim, bem ou mal eu gosto de escrever. A intenção é que isso aqui sirva como uma "descarga mental" onde comento fatos, acontecimentos e pensamentos, na verdade, tudo que me der vontade. Sabe quando se vê um filme, lê um livro ou algo no jornal e ficamos com vontade de discutir com alguém sobre o assunto? É pra isso que esse espaço serve, assim eu incomodo menos quem está à minha volta e começo a incomodar anônimos internet afora que queiram ser incomodados. Mas é claro que não vou fugir muito dos meus hobbies, interesses pessoais e profissionais, como saúde, atividade física, esporte, tecnologia e música.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Mais Saúde!!!
Essa era a manchete na capa do jornal Zero Hora do dia 1º de abril, seguida da frase: "IBGE revela que a população está se hospitalizando menos, por estar incorporando na rotina exames e hábitos saudáveis". Na versão online da matéria, a chamada era melhor ainda: MAIS PREVENÇÃO - Como está a saúde do brasileiro.
Ao ler eu pensei, que bom, pra mim hábitos saudáveis significam - exercício físico, alimentar-se corretamente, não fumar e consumir álcool de forma racional, afinal são essas 4 coisas as grandes responsáveis pela maioria das mortes em todo mundo e pelas doenças crônicas que sobrecarregam o sistema de saúde. Mas fui ler a matéria na íntegra e percebi que não era bem assim.
Infelizmente o que foi avaliado (no período de 2003-2008) não tem nada a ver com alimentação, atividade física ou fumo. Apesar de a chamada levar a crer que estariam falando em prevenção, seguimos falando em curar o que já está doente.
Parece que as pessoas estão se hospitalizando menos de 2003 para 2008, porque estão usando mais postos de saúde ao invés dos hospitais, mas essa conclusão também é duvidosa, já que eles mostraram uma porcentagem que baixou de 8% para 7,4%. Sei lá se isso é relevante estatisticamente. Outro lado “positivo” é que as pessoas estão considerando o atendimento melhor hoje em dia. Em 2003, 86% considerou o atendimento muito bom/bom, e essa porcentagem subiu para 86,4% (essa diferença foi sensacional). Nem precisa entender de estatística pra ver que é uma melhora insignificante, até porque a quantidade que relatou serviço ruim/muito ruim aumentou em 0,5%.
E quais foram as coisas que aumentaram para dizer que as pessoas estão incorporando hábitos saudáveis? Fazer mamografia (46% - 62%), ter plano de saúde (30%-34%) e ir ao dentista (89%-92%). Ninguém discute que são atitudes maravilhosas, mas alguma delas aumenta nossa saúde? É relativo. Eu sempre tive resistência com o termo “preventivo” que aparece junto a alguns exames, porque na minha cabeça nenhum exame previne doença, o exame no máximo pode prevenir a evolução da mesma e nos dar um aviso a tempo de agirmos, mas a doença segue seu rumo natural independente de exames. Fazer exame de sangue todos os dias não baixa colesterol de ninguém, mas nos mostra que está alto e que devemos agir.
O que reduz a chance de adoecermos é combater os fatores de risco. Vejamos a mamografia que aumentou, que bom, mas o que está altamente associado ao câncer de mama? Genética, raça, envelhecimento e histórico familiar (que não podemos mexer), obesidade, alcoolismo, sedentarismo, dieta rica em gordura (que podemos mexer). Ou seja, a mamografia é necessária, mas para evitar a doença efetivamente o caminho é outro. Sabe quantas mamografias são necessárias para achar uma mulher com o problema? Centenas. Quer dizer, o impacto desse aumento nas mamografias pode ser muito pequeno na saúde da população porque, de todas as mulheres que fazem mamografia aproximadamente 0,5% apresentam resultado recomendando uma investigação mais específica. Não sou médico, nem tenho como ser contra um exame maravilhoso como a mamografia, só quero mostrar que a prevenção real é outra coisa.
Um indicativo de que não devo estar tão errado foi a porcentagem de pessoas referindo ter alguma doença crônica, tanto em 2003 quanto em 2008 38,4% dos gaúchos reportaram doenças crônicas, ou seja, apesar dos indicativos indiretos de melhora (mais medicalização), a doença continua lá, firme e forte porque hábitos saudáveis são aqueles citados no início do texto, e esses seguem inalterados (ou até pioraram).
É controverso, mas fornecer atendimento médico a mais pessoas não significa necessariamente aumentar a saúde delas, ensiná-las e incentivar hábitos realmente saudáveis é que poderia melhorar a saúde. Aí sim poderia ser que a porcentagem que interessa (gente que refere ser doente) realmente baixasse, mas ficar dizendo que estamos mais saudáveis porque temos mais plano de saúde é um absurdo.
Parabéns às ações do governo em desafogar os hospitais, facilitar o acesso aos exames, aumentar as equipes do PSF, etc. tudo coisa válida e necessária, mas infelizmente seguimos agindo na cura e não na prevenção.
Ao acabar de ler a matéria toda, reli a manchete de capa e percebi que realmente era bem adequada para a data: 1º de abril.

2 comentários:

  1. Belo post, Marlos, da para perceber que foi escrito por um professor de ed.física Dr em epidemiologia,hehe esta matéria é para encher ainda mais o ego e o bolso dos médicos.
    Abração

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  2. Mais uma vez, ótimo o texto!
    O "negócio" é prevenir antes de tudo virar o caos!

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